segunda-feira, 21 de abril de 2008

O Fim de Semana Perdido: 8º - Areias do Tempo



"O que eu não faço por você?"
"E o que seria de mim se não fosse você?"

Onde eu quero chegar com isso? - me faço novamente essa pergunta. Fato que pela manhã estava mais do que decidido, mas por que? e para que? é uma fraquesa ou uma força? não sei, mas, mesmo assim com todas as questões pairando suavemente na cabeça segui como planejado, talvez a noite passada, o entusiasmo pela vitoria do meu time de futebol, o certo era que o entusiasmo e obstinação tinham tomado conta de mim.


Ao caminhar em direção do local, me perguntei também, acho que ela esta tão ciente quanto eu, afinal de contas a minha desculpa me pareceu tão comum, e a minha intenção tão obvia, mas, mesmo assim não isentava a minha responsabilidade, nenhum pouco, se ela estivesse la estaria tão ciente quanto eu.


Ao chegar no local la estava ela, parada com o olhar um tanto perdido, mergulhado nas nuvens de um fim de semana nublado, mas, por enquanto sem chuva, sorri gentilmente sem ela me ver, o entusiasmo dentro de mim, aumentou, e junto com ele um calafrio me fazia tremer intensamente, disfarcei o maximo possível, e me aproximei dela, ela continua mergulhada no vazio, lhe desci a mão pelo ombro, ela ergueu as sombrancelhas e se virou, me comprimentou com um beijo no rosto e suspirou, em seguida disse.


- Fê tem certeza, que precisa fazer isso? - ela perguntou
- Claro, ainda mais que estou de férias, não há hora melhor pra isso. Esitei por um instante, mas desviei o olhar.
Ela somente balançou a cabeça positivamente. E então ela seguiu me acompanhando, eu novemente me perguntando, mas será possivel? é tudo tão obvio!!, o que realmente percebi é que meus calafrios haviam duplicado de intensidade.


Ao abrir a porta, a poeira intensa veio a minhas narinas com tamanha intensidade que por um segundo senti as vias respiratorias congestionada como se fosse por areia....Dei uma olhada por toda a sala, como que admirando o local, e a chamei, ela estava ainda parada na porta, ela adentrou o local.


- Por onde começamos? - ela perguntou, não posso me demorar - completou
- Vamos pela prateleira mais alta - eu disse
Subi na escada e retirei as caixas da prateleira mais alta, e coloquei em um balcao, comecei a vasculhar a caixa, atrás...atrás de nada....ela se aproximou, e começou a procurar junto comigo. E então minha mão tocou a dela, senti de novo aquele choque a faiscar pelo corpo, ela olhou pra mim, como se estivesse me desmascarando ali, lendo meus pensamentos, adentro a minha alma...ou sera que...o que eu via era como se os pensamentos dela fossem um espelho do meus? e então ela desviou o olhar.


- O que foi? - lhe perguntei
- Não posso olhar pra você! - ela disse
- E por que? - eu insisti
- Não consigo me controlar - ela respondeu
Então lhe peguei pelo braço, devo dizer que pensando friamente, essa ação foi de total inconsequencia, instinto, uma força da qual não sei, o que me moveu, ela novamente tentou desviar o olhar, e eu lhe pedi pra olhar pra mim, nessa hora, a caixa caiu no chão e deslizou todos os seus papéis inuteis, pelo chão cheio de areia.


Minhas mãos foram de encontro ao rosto dela, ela levantou o rosto pra mim, e eu lhe disse quase como um sussurro, me beija, ou eu beijo você, ela tentou desviar novamente o olhar, tentando balançar a cabeça negativamente, e eu por um instante esitei, mas devo dizer que a esitação foi por um milésimo de segundo, pois quando ela balançou a cabeça negativamente pela segunda vez, lhe segurei com as duas mãos pelo rosto, ela olhou diretamente pra mim, e então me beijou, tudo absolutamente tudo, ficou em silencio, o friozim daquela manhã ja não me afetava mais, aquele pó tremendo que mais parecia areia fina não incomodava, pois eu não sei ao certo se estava respirando, eu não ouvia nada, não sentia nada, estava tão leve que poderia flutuar no ar.....


Quando nossos labios se separaram e eu tomei conta da realidade, ela colocou a mão em meu peito e me afastou de forma lenta e suave, eu lhe coloquei as mãos sobre o ombro e lhe apertei contra mim, e ela então fechou os olhos e repousou o rosto sobre o meu peito, lhe abracei, ela roçou o rosto em meu peito, como o de uma criança procurando proteção nos braços de um adulto protetor.


Ela olhou para o relogio, muito tempo havia se passado.
- Preciso ir.... - ela disse, e agora o que vai fazer com essa bagunça?
- Vou arrumar tudinho - lhe respondi sorrindo


Comecei a recolher os papéis do chão, que encontravam-se cobertos de areia; ela foi até a porta e parou encima do batente da porta, e ficou com o olhar mergulhados nas nuvens, larguei os papeis e fui ao encontro dela, lhe passei o meu braço esquero pela cintura, ela reagiu fechando os olhos e respirando fundo, recostei minha cabeça sobre seu ombro direito, ela esticou a mão esquerda até atingir meu rosto e começou a acariciar, e reclamou dizendo


- Precisa fazer a barba
- Eu sei - respondi sorrindo
- Preciso ir... - ela disse novamente
- Não vá, fique mais um pouco - eu pedi
- Você sabe, se eu pudesse passava o resto da vida aqui com você.


Ela se virou de frente pra mim e me beijou no rosto, ao olhar seus olhos lhe abracei. Nossas mãos se juntaram e ela foi desgarrando aos poucos, e quando a mão deireita deixou a minha escorreu como um pedaço de véu deslizando como se tocada por uma leve brisa....ela virou as costas e foi saindo, ao atingir uma certa distancia, ela olhou para trás e olhou para mim, sorriu de um forma que não sei descrever ao certo, e depois seguiu seu caminho, eu retornei a minha empreitada, e ao recolher aquela bagunça, de papéis, papéis inuteis, mas que naquela manhã tiveram sua importancia tamanha, agora estava tudo repleto de pó, como disse um pó fino, que mais parecia areia, areia....areias do tempo, areias de um tempo, areias de um tempo que será inesquecivel.....


Livro - Os Demônios de Loudun - Aldous Huxley
Musica - You've Got To Hide Your Love Away - The Beatles
Rodada - Palmeiras 2 x 0 São Paulo

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